Não existe, até hoje, um número rigoroso, fiável ou atualizado que permita afirmar com certeza quantos madeirenses na Venezuela poderiam regressar à Região Autónoma da Madeira num cenário de guerra. Contudo, a análise de dados históricos, estimativas comunitárias e movimentos migratórios recentes permite compreender melhor a dimensão - e as limitações - desta questão que preocupa muitas famílias madeirenses.
📌 O que sabemos: dados históricos, registos oficiais e estimativas comunitárias
Ao longo de várias décadas, a Venezuela acolheu uma das maiores comunidades madeirenses do mundo. Segundo estudos e registos migratórios, entre 1950 e 1969 chegaram ao país sul-americano cerca de 73.554 portugueses, dos quais 38.737 eram naturais da Madeira. Foi uma das ondas migratórias mais relevantes da história regional.
Alguns artigos e reportagens mais antigas referiam a existência de cerca de 300 mil madeirenses e luso-venezuelanos a viver na Venezuela — número que inclui emigrantes, descendentes diretos, cônjuges, famílias mistas e pessoas com dupla nacionalidade.
Nos últimos anos, a crise social, política e económica venezuelana provocou um movimento de regresso significativo. Entre 2016 e 2018, estimou-se que cerca de 4.500 emigrantes voltaram à Madeira, num fluxo que continuou em ritmo variável até aos dias de hoje.
Mais recentemente, em 2025, uma associação regional reiterou a estimativa de mais de 300 mil madeirenses e descendentes atualmente na Venezuela. Embora seja um número muito repetido, continua a ser uma estimativa — não uma contagem oficial.
⚠️ Porque é tão difícil saber quantos madeirenses vivem na Venezuela?
A verdadeira dimensão da comunidade madeirense na Venezuela é extremamente difícil de apurar devido a vários fatores:
- As estatísticas oficiais referem “portugueses” ou “luso-descendentes”, sem especificar a região de origem (Madeira, Continente ou Açores).
- A definição de “madeirense” é heterogénea: inclui emigrantes nascidos na Madeira, filhos, netos, bisnetos, cônjuges e famílias culturalmente mistas.
- Muitos descendentes já não se registram como portugueses — possuem apenas nacionalidade venezuelana.
- Há migração constante entre Venezuela, Madeira e outros países, o que altera o número permanentemente.
Na própria Madeira, os dados oficiais mostram que viviam 2.182 cidadãos venezuelanos em 2023, mas esse número não reflete quantos são, de facto, madeirenses regressados.
🔎 Cenários possíveis: quantos poderiam regressar em caso de guerra?
Dada a ausência de dados precisos, é necessário trabalhar com cenários:
Cenário Conservador
Apenas algumas dezenas de milhares poderiam ter condições, documentos ou vontade de regressar. Muitos permanecem na Venezuela por razões familiares, empresariais ou porque já não se identificam como madeirenses.
Cenário Alargado (e altamente especulativo)
Se considerarmos todos os luso-descendentes que mantêm ligação à Madeira, o número teórico poderia aproximar-se dos 300 mil mencionados por algumas entidades. Contudo, este valor é considerado muito exagerado enquanto “potencial de regresso real”.
🔚 O que realmente sabemos — e o que continua em aberto
Atualmente não existe qualquer dado público, verificado ou atualizado que permita determinar com precisão quantos madeirenses vivem na Venezuela — muito menos quantos poderiam regressar em caso de guerra.
As estimativas variam amplamente, misturam categorias populacionais distintas e não refletem a mobilidade constante da comunidade. O que existe são números aproximados, baseados em história migratória, registos comunitários e interpretações de dados incompletos.
O tema continua a ser profundamente relevante para a sociedade madeirense — mas a verdade é que a cifra exata permanece desconhecida.
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